Psychedelic Integration Psychedelic Therapy


Beyond Experience

A Multimodal Workshop for Focused Psychedelic Integration

Traduzido por João Cardoso, editado por Joana Miranda

Edited by Jennifer Them

“GESTALT: ALGO QUE É COMPOSTO DE MUITAS PARTES E QUE, NO ENTANTO, É DE CERTA FORMA MAIS DO QUE OU DIFERENTE DA CONJUGAÇÃO DAS SUAS PARTES”  DICIONÁRIO MIRIAM-WEBSTER

“INTEGRAÇÃO: COORDENAÇÃO DE PROCESSOS MENTAIS NO ÂMBITO DE UMA PERSONALIDADE EFICIENTE NORMAL, OU COM O AMBIENTE” DICIONÁRIO MIRIAM-WEBSTER

O uso de substâncias psicadélicas e entactogénicas é um dado cultural nas sociedades ocidentais da actualidade1,2. Segundo o Global Drug Survey, o maior inquérito internacional digital sobre uso de drogas, o uso de substâncias psicadélicas está a aumentar entre os seus utilizadores: em 2017, 20% das pessoas que usavam drogas ilegais declararam o uso de dietilamida do ácido lisérgico (LSD) nos últimos 12 meses. O acesso facilitado através da rede paralela darknet, mas também através de lojas digitais da rede comum que comercializam novas substâncias psicoactivas, aumentou a disponibilidade, especialmente para os jovens. E embora não tenhamos quaisquer dados a este respeito, a indução não farmacológica de estados de consciência expandidos ou não ordinários (ENOC)3 que está intimamente ligada a fenómenos sociais abrangentes como ioga e práticas de meditação, pode também estar a aumentar4,5.

O “renascimento do psicadelismo” na medicina e na neurociência levou ao aumento do interesse, tendo até chegado à publicação de um retrato de Sasha e Ann Shulgin, os padrinhos das novas substâncias psicoactivas, na primeira página do British Journal of Psychiatry em 2015. A metilenodioximetanfetamina (MDMA) e a psilocibina são susceptíveis de se tornarem medicações prescritas para um espectro limitado de perturbações mentais durante a próxima década e são de novo alvo de discussão nos principais meios de comunicação social. Embora a ciência tenha tido em pouca conta as possibilidades da investigação de substâncias psicadélicas durante várias décadas desde a proibição do LSD no final dos anos sessenta, o uso recreativo de substâncias psicadélicas nunca cessou desde a sua introdução nos EUA e na Europa.

No entanto, o enquadramento e os modos de utilização têm variado, e hoje em dia vão desde o uso recreativo puramente hedonístico em torno da autoexploração psiconáutica, até contextos cerimoniais, religiosos, neo-xamanísticos ou paraterapêuticos. Embora conceitos como disposição e contexto (set & setting) tenham sido já solidamente incorporados pela maioria das comunidades psicadélicas e estratégias para a redução de danos tenham sido há muito publicitadas por numerosas organizações6, tais como a Eclipse e.V. em Berlim ou Rave it Safe na Suíça, a integração da experiência psicadélica apenas nos últimos anos se tornou um tópico central no seio da comunidade psicadélica. A ampla disponibilidade e utilização de substâncias psicoactivas, bem como de métodos não farmacológicos, levanta várias questões:

  • Como atribuir sentido às próprias experiências
  • Como tirar conclusões benéficas das próprias experiências?
  • Como lidar com dificuldades, receios, e possível re-traumatização?
  • No geral, como integrar os conhecimentos adquiridos em estados de consciência não ordinários?
  • E, finalmente: conseguindo integrar positivamente as experiências psicadélicas na própria vida, como fazer com que esses benefícios perdurem?

A “Integração Psicadélica” pode ser entendida como o processo de sintetizar percepções e experiências adquiridas durante estados não ordinários de consciência com a estrutura mental preexistente, incluindo mundividência, pressupostos morais, e padrões individuais de (re)acção ao mundo à nossa volta. A reorientação do enfoque em ter uma experiência para a manutenção e incorporação dela, é algo que frequentemente sucede à experiência, porém mesmo os entendimentos que foram considerados extremamente valiosos podem perder-se ao longo do tempo ou não conduzir a qualquer mudança no comportamento. Estes podem perder a sua palpabilidade ou esbater-se ao ponto de já não poderem ser evocados por vontade própria – para muitos este é o caso quando o chamado efeito afterglow7 desvanece. O oposto também: temas biográficos complexos ou traumas que foram considerados “tratados” podem ressurgir com repentina premência mais tarde.

Ainda que muitas pessoas aprendam a estruturar e moldar as suas paisagens interiores e exteriores bem dentro e em torno de estados de consciência expandidos, o esforço a longo prazo de criação de benefícios duradouros é frequentemente negligenciado ou substituído pela procura de novas e intensas experiências. Isto leva amiúde ao uso repetido de substâncias psicadélicas ou outros métodos de indução, deixando o material ainda por integrar amontoado num canto da consciência, ou esmagado pelas impressões mais frescas das experiências recentes.

Os casos graves de convulsão mental após experiências psicadélicas deverão ser tratados por terapeutas experientes. Em clínicas de algumas áreas urbanas como Berlim (St. Hedwig Krankenhaus, Charité Universitätsmedizin) ou Nova Iorque (p. ex.: no consultório privado de psicoterapia de Ingmar Gorman) são disponibilizados horários de consulta profissional ou material ambulatório.

Em Berlim, a OVID Clinic oferece quer Psicoterapia de Integração Psicadélica quer Psicoterapia Assistida por Psicadélicos. No entanto, serviços profissionais como estes, que operam para além de um paradigma estritamente patológico ou baseado na toxicodependência, são raros. Poderíamos também dizer que há ainda pouca compreensão acerca das experiências não ordinárias e da função ambivalente que exercem na vida das pessoas.

PARA ALÉM DA EXPERIÊNCIA

A maior parte das pessoas procurando integrar melhor os seus estados de consciência expandidos não precisam de terapia, mas sim de plataformas para a autoexperiência com orientadores que de facto apoiem estes esforços de integração. Participar nestes grupos pode ser considerado uma tentativa de cura própria, após o desafio de deparar-se com informações perturbativas. Promover a integração de uma forma estruturada que se relaciona com conhecimento profissional e teorias baseadas em ciência é um desafio que já foi assumido por diferentes grupos, que vão desde círculos de integração por vezes proporcionados pelo crescente movimento de sociedades para as substâncias psicadélicas (por exemplo, a Sociedade Psicadélica de Viena) até à InnerSpace Integration nos EUA. Estes agrupamentos baseiam-se fundamentalmente em rodas de partilha, proporcionam uma plataforma para o intercâmbio entre participantes e assistência de orientadores experientes, ajudando as pessoas a pôr em palavras as suas experiências e a prosseguir daí em diante.

Na Fundação MIND, optamos por uma abordagem diferente. Um grupo dentro da organização composto por médicos, psicoterapeutas, investigadores, assistentes sociais e outros desenvolveu um programa semipadronizado de integração. É concebido como um processo centrado, num grupo fechado, durante cinco dias consecutivos, e incide sobre a experiência psicadélica com base numa abordagem multidimensional.

Muitas das camadas destas experiências são de carácter não verbal e multimodal: estas incluem aspectos sensoriais, imaginários ou maioritariamente emocionais. Abrangemos todas estas dimensões na nossa série de sessões de trabalho, incluindo formas básicas de actividade corporal e expressão por dança (transe), exercícios respiratórios, trabalho artístico criativo, e intervenções a partir de práticas de consciência plena. Para além destes métodos experimentais, incluímos no nosso sistema a educação psicológica e a redução de danos, tentando possibilitar aos participantes estarem mais conscientes de si próprios, das suas motivações, capacidades, e feitos, e do papel dos outros em futuras experiências psicadélicas.

Estes cursos intensivos de cinco dias estão integrados num processo orientado de grupo, servindo assim como incubadora segura para o desenvolvimento pessoal. A equipa de orientadores é constituída por terapeutas, instrutores, especialistas em trabalho corporal, técnicos de redução de danos, e outros, proporcionando-nos a oportunidade única de passar o manual de integração à prática aberta e flexível, que permite a exploração máxima ao mesmo tempo que cria um ambiente mais benéfico.

Durante um período de mais de três anos, o grupo de desenvolvimento reuniu-se regularmente com cerca de quinze colaboradores e associou-se em pequenos grupos de trabalho para criar a oficina “BEYOND EXPERIENCE’. As sessões são conduzidas em inglês (por vezes também em alemão) e têm lugar em Berlim, Amesterdão e Palma de Maiorca, com vários cursos por ano. As sessões são conduzidas em inglês (por vezes também em alemão) e têm lugar em Berlim, Amesterdão, Palma de Maiorca, Cluj (Romenia) e Vale de Moses (Portugal!) com vários cursos por ano. Ficamos a aguardar com expectativa o encontro com participantes de origens sociais bem diversas e estamos igualmente interessados em receber as suas ideias e contribuição para o desenvolvimento contínuo do programa. 

 

Isenção de responsabilidade: este post do blog foi traduzido e editado por voluntários. Os contribuidores não representam a MIND Foundation. Se notar algum erro ou inconsistência, por favor informe-nos – agradecemos qualquer sugestão que possa melhorar o nosso trabalho (mailto:[email protected]). Se deseja ajudar no processo de tradução, entre em contacto connosco para se juntar ao. MIND Blog Translation Group!

REFERÊNCIAS

1. Hermle, L., & Schuldt, F. (2016). MDMA. In M. von Heyden, H. Jungaberle, & T. Majić (Hrsg.), Handbuch Psychoaktive Substanzen (p. 1–20). Berlin, Heidelberg: Springer Berlin Heidelberg. doi.org/10.1007/978-3-642-55214-4_25-1 

2. von Heyden, M., & Jungaberle, H. (2017). Psychedelika. In Maximilian von Heyden, Henrik Jungaberle, & Tomislav Majic (Hrsg.), Handbuch Psychoaktive Substanzen (1st Aufl.). Berlin-Heidelberg-New York: Springer. https://content.e-bookshelf.de/media/reading/L-7688498-6b93f8cdba.pdf

3. Charles T. Tart. (1975). States of Consciousness. iUniverse. Abgerufen von www.goodreads.com/work/best_book/702103-states-of-consciousness

4. http://www.lucialightexperience.com

5. https://holotropic-association.eu/breathwork

6. Psychedelic Care Publications. (2015). The Manual of Psychedelic Support. A practical Guide to Etablishing and Facilitating Care Services at Music Festivals and Other Events (S. 342).

7. Majić, T., Schmidt, T. T., & Gallinat, J. (2015). Peak experiences and the afterglow phenomenon: when and how do therapeutic effects of hallucinogens depend on psychedelic experiences? J Psychopharmacol,29(3), 241–253. doi.org/10.1177/0269881114568040

PROPOSALS FOR FURTHER EXPLORATION

http://www.lucialightexperience.com

https://holotropic-association.eu/breathwork

 


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